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Mostrando postagens de dezembro, 2021

De concreto e sal.

 Muro de concreto e sal, esse que nos divide. Lembro que nos beijamos na virada de 2011. Também no show do Kid abelha, enquanto tocava uh eu quero você como eu quero. Você parecia só querer me usar, como instrumento de ciúmes pra causar dor em outro ser. Isso me parece o auge do egoísmo. Não o de Ayn Rand, no fim das contas não havia nada de puro altruísmo naqueles beijos. Você é descarada. Você não me queria nada! Você me enganou e eu gostei. Você fingiu e eu acreditei, mas depois você não conseguiu me esquecer.  E eu não consegui esquecer de você. E após todos esses anos de músicas enviadas e mensagens trocados eu continuo lembrando daquele beijo. Aquele terceiro e último beijo. De como você parecia que iria me perder para sempre. De quando você desceu do Haliday e me levou até perto da praia, de como você não se importava se tinham três milhões de pessoas ali observando a gente.  Eu nunca te amei, é verdade. Eu acho que você também não. Você nunca abriu mão de nada para ficar comigo

No rádio toca Billie Holiday.

  E a noite chega   Como uma cachorra velha de rua Dia após dia ela chega Devagar, cada vez mais desgastada  Sem brilho, sem querer, sem nada além Da mesma lua, das mesmas coisas, das mesmas dores E depois o que sobra O amanhecer  Para os que dormem, sereno Para os que permanecem, insuportável. Mas chega, e continua a chegar Dia após dia  No mesmo lugar, um a leste outro a oeste Para os amantes da noite, o dia é só mais um fardo O que acontece a quem gosta dos dias, man Os que bebem não conseguem suporta-lo  Aos que não entendem como a vida pode ser  Doida&doída  E por fim, tem aqueles Que continuam, sobretudo Vivendo, sobrevivendo, e atravessando mais uma noite, mais um dia. Esses são os mais afetados.

Al

 Penso assim que somos como aquelas histórias que ficam registradas na memória de tantos, nos papéis e nos livros, e até hoje em dia na internet, mas que aos poucos vai se apagando da mente um do outro. Que se encontrarão, Beatriz e Milena e comentarão ‘’que bela história poderiam ter vivido aquelas sortudas meninas, que amor lindo havia ali, pena que não viverão’’ enquanto entornam mais um copo de uma bebida qualquer. E imagino que nosso encontro no bar fica cada vez mais distante e vai perdendo a cor. Quer dizer, é lógico que lembro que você ama sorvete de flocos e você obviamente lembra que o único sorvete que me desce é morango, é claro que para sempre lembrarei do som da sua risada, mas aos poucos esqueceremos os detalhes. Como qual roupa você usava quando passamos a tarde nos beijando no Ch, enquanto apertávamos baseados terríveis e por exemplo quem veio atrás de quem na última vez que tentamos.  E penso se ainda lembrará do meu aniversário, e se eu continuarei te escrevendo cart

Precipitou-se

 E se de repente tudo mudasse E se a vida parasse De brincar com a gente? E se você voltasse Se a gente ficasse E escolhesse o melhor pra gente? Eu sei que está bom assim Não reclamo do que não é ruim Só te digo te amo, e  Não mente Que as vezes Tudo que a gente precisa é isso A coragem pra pular do precipício E alguém que pule com a gente.

espelho antigo

 Penso que talvez, num canto qualquer da sala, enquanto escrevo, ainda encontrarei a mim mesma novamente. Olho as fotos de seis anos atrás e me reconheço, mas onde estão as-novas-lembranças?  As pessoas continuam a criar novas lembranças, a maioria um grande tédio é lógico e se for para ser isso, prefiro minha cama com Netflix. A gente observa as pessoas se tornando um tédio absoluto com suas vidinhas medianas, famílias sendo criadas e novos amigos chegando e acha isso maravilhoso mas eu acho um saco. Pra mim a gente tem muito que viver, mas não suporta o peso, porque quer ter demais, e se a gente não é aquelas pessoas que sabem ganhar dinheiro trabalhando pouco acaba ficando preso na roda do rato. Bem, é lá que estou. E no fim não sei se vale a pena me matar assim. Talvez fumando e bebendo até fosse mais devagar. Mas larguei os velhos hábitos. A garotinha de 15 anos não tinha ideia como cigarros e álcool eram viciantes, como sofri baby, e desejei esse tédio. Agora olho ao redor e tudo

Buzina.

Desceu a escada correndo, sorriu para o cliente: - Aqui, obrigada, boa tarde. Virou, prestou atenção em si mesmo subindo as escadas, correndo, pulsando, o coração. Não entendia mas estava no automático.  Desaprendeu a gostar de coisas boas, primeiro as muito boas como beber e fumar. Depois comer e cagar, e por fim se contentava estar de frente a tv com um doce.  - Bukowski teria vergonha de mim mas certamente as redatoras de NY se orgulhariam agora. A mulher perfeita. Não tão vaidosa, não tão atenciosa. Detalhista. Leal. Trabalha até à exaustão e é tão responsável a ponto de trocar um rolê pra pagar contas. God! Quem ainda faz isso após uma pandemia? Um dia, sua mãe perguntou:  - Precisa de algo? - Sim, de uma lava louças enorme e um liquidificador novos. Não pedira carinho, passeio ou mimo. Pedira eletrodomésticos. Ela só tinha 27.  Depois do vício em cocaína se tornou difícil gostar de coisas superficiais, passava a dar valor cada vez a coisas mais simples e básicas, a essa altura, c

Verso e poesia

Porque sim O navio parou aqui  Desceu você, eu fiquei Ninguém viu Pedi assim Deus, se for de ser Avisa, que aqui Não dá pra ver,  Como daí de cima. A visão turva Primeiro o álcool Depois a droga Doses maiores que foram  Penetrando  Se foram Mas deixaram cicatrizes  Profundas, dolorosas  Um navio de traumas E tramas, dramas Ah, meu amor de mais de uma semana Há quantos anos não escrevo sobre ti Pra dizer que teu silêncio não engana E que tudo que gostaria, eu sinto aqui Um sorvete na calçada, um cinema com beijo molhado Tudo isso num shopping barato Eu queria que tu tivesse aqui.

2017

 Você nunca vai ler isso. Mas gostaria que sim. Gostaria de dizer que seria incrível ver mais um por do sol com você. Subir na sua garupa enquanto os ventos da praia sopram e avisam que a temporada está chegando. Queria mais uma vez olhar nos seus olhos e dizer te amo, passar a mão nos seus cabelos e sussurrar o quanto você é atrevida. E o quanto fica linda quando coloca esse ponto de luz em suas pequenas e delicadas orelhas. Talvez nesse ano você lembre de mim, com esse anel de onda que você trouxe até aqui, o qual nunca tive coragem de pedir de volta, mas deveria, pois não te pertence. Ele também não me pertence. Mas a essa altura, já não importa. Queria te pedir para construir novas memórias, queria te ouvir contando suas histórias, o seu sotaque carregado e o jeito como erra o português falando mesmo sabendo o jeito certo. De propósito. 

2021

 Jaz faz 11 anos. Desde que você tocou na minha mão e de um jeito bem estranho, desenhou de caneta azul alguns rabiscos enquanto tagarelava como uma louca. Eu olhava aquele cabelo curtinho que você tinha, como chama mesmo? As suas costeletas. Elas eram grandes pro curtinho do seu cabelo. Eu confesso que no momento em que aquelas costeletas estranherrimas, foi como um se um tiro percorresse toda a minha corrente sanguínea. Eu soube exatamente ali que arderia de amor por longos anos.  Bom, enquanto você desenhava com aquela caneta azul, falava sobre seu aniversário e o quanto você amava esse dia é sobre como ele era tão perto do réveillon que as pessoas sempre acabavam deixando você de lado em troca de uma data que, óbvio, na minha concepção aquela altura, era um crime alguém deixar de comemorar a sua vida por causa de uma simples virada de ano né? Eu já te venerava. As duas semanas seguintes eu dormia e acordava lembrando do seu cheiro de chocolate e daqueles malditos sinais que você ca