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 Penso assim que somos como aquelas histórias que ficam registradas na memória de tantos, nos papéis e nos livros, e até hoje em dia na internet, mas que aos poucos vai se apagando da mente um do outro. Que se encontrarão, Beatriz e Milena e comentarão ‘’que bela história poderiam ter vivido aquelas sortudas meninas, que amor lindo havia ali, pena que não viverão’’ enquanto entornam mais um copo de uma bebida qualquer. E imagino que nosso encontro no bar fica cada vez mais distante e vai perdendo a cor. Quer dizer, é lógico que lembro que você ama sorvete de flocos e você obviamente lembra que o único sorvete que me desce é morango, é claro que para sempre lembrarei do som da sua risada, mas aos poucos esqueceremos os detalhes. Como qual roupa você usava quando passamos a tarde nos beijando no Ch, enquanto apertávamos baseados terríveis e por exemplo quem veio atrás de quem na última vez que tentamos. 


E penso se ainda lembrará do meu aniversário, e se eu continuarei te escrevendo cartas no seu, e se isso te deixa feliz ou te faz revirar os olhos pensando, meu Deus meu Deus que fantasma é esse que nunca me deixa em paz. Seríamos fantasmas? Ou ainda lembraremos pare sempre do cheiro da curva do pescoço para a nuca uma da outra? 


E se na pilha do destino formos somente mais uma dupla de covardes que perdeu a chance de viver o melhor da vida. E se na vida passada não ficamos juntas, se nessa também não, o que nos resta? Vivi por anos acreditando que ano após ano estaríamos mais próximas de um dia dizer sim, querer sim e viver sim. Mas agora olho e vejo que temos nos tornado cada vez mais dois estranhos, entre o paraíso e o inferno, provando micro doses de momentos de amor, momentos de dor, felicidades cotidianas e materiais que rapidamente enjoamos. 


Pode ser que esse seja o último aniversario que te felicito. Não sei se continuo. Tenho medo de estar te machucando aos poucos, como você fez comigo. Tenho medo de ter te adoecido, eu sei que chorei sua dor, por tantas vezes, que ela parece ter criado espaço em mim. E tenho saudade, mesmo daqueles momentos. Onde minha mão apertou a tua e senti no peito o dilacerar dos teus traumas. Tão reais e quentes naquela época. É bom te ver bem. Tive medo de te perder. Me culpo por não ter estado perto. Eu estava ocupada com meus próprios demônios, verdade. Nós sempre tivemos vários, baby. 


Será que me entende? Será que me vê? Ainda me vê? Ou já desapareci de tua memória, me tornei tão invisível diante de todas as outras que vieram depois? Digo as lembranças. Você tem construído ótimas lembranças, querida. E eu espero que continue assim, eu sempre a vi assim. Grande. Bela. Eleganterrima com sua voz grave e poder de persuasão. Esse olhar de leoa raposa que sabe como se portar e sabe bem o que quer. Continue, continue. Apenas continue, que aquele peixinho que eu conheci, já não é mais um peixinho assustado. Se tornou predadora. Algo que sempre esteve aí. Só você não via… 

Torço para que ame também. Não permita que o passado te deixe fria. Você é a mulher que mais merece ser amada nesse mundo e a forma como ama intensamente certamente também deve abençoar algum ser neste plano ainda. Mande notícias, quero saber das mais bestas. Eu sei que você gosta de café e usa um crachá por aí. Eu sei que continua cantando e falando alto. E continua conquistando a todos. Cative os bons. O resto vem.


Daqui, amo você na mesma intensidade. Talvez um pouco mais a cada ano. 


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