deixei meu anel na loja de penhores.

Enquanto ela virava outro copo de vodka na Rue de Berne, a doce jovem no calor do Rio sujava seus lençóis com seu esmalte cinza metálico, coleção outono/inverno de 2008, e por ironia ou coincidência o pingos de suor caiam também sobre o branco da cama, transparecendo a cor do lençol de baixo vermelho. Vermelho também era o batom agora meio deslocado da boca de Genéve, que virou a oitava dose, num bar chamado Copacabana... Sentia saudades, o pensamento alterado dizia: Copacabana, minha amiga, me leve até você... Mas era em outro estado que ela gostaria de estar. Derrepente, Lucy sente o molhado do suor salgado descendo pelos seios, derrepente, não era suor, eram lágrimas, largu o esmalte, correu ao espelho, nada demais, era saudades também... De volta a cama olhou para as unhas, e deu um quase grito de raiva, inevitavelmente pensou em Genéve, dessa vez o grito não ousou ficar preso, rasgou a garganta, a tentativa de esquecer foi inútil, pela... por mais uma das muitas vezes que tentou, só que não conseguia não sentir carinho, com aqueles cabelos curtinhos, amarrotados, sujos, colocou-os atrás da orelha e pensou: Genéve, meu bem, você fazia desenhos lindos nas unhas, e aquele colorido que você colocava na ponta de todas as unhas dizendo ''mamãe me ensinou isso'', era tão família... Pra onde voou esse espírito familiar quando veio morar comigo? Décima dose na Suécia, e os olhos mais pretos que os cabelos já contraiam e dilatavam numa frequência que a fez lembrar a primeira vez em que usou LSD. Essa palavra, LSD, que a lembrava a subliminar naquela explosão dos Beatles, o nome da música era Lucy in the Sky with Diamonds. Mas não era só o nome que lembrava a moça do Rio de biquini amarelinho com bolinhas pretas, a música era toda daquela brasileira, ela era bem assim, Uma-Garota-Com-Olhos-De-Caleidoscópio. Mc Cartney já dizia. Lucy foi levada num táxi de papel para um céu com diamantes. O seu apartamento brilhava mais que discoteca, e era lá que Genéve queria estar.