Era outubro e o sol estava morno, como nós.

 Sabe quando você se joga num abismo esperando voar? Com você foi exatamente assim. Eu me joguei em seus braços, em seus abraços, eu me dissolvi no seu sorriso, você sabe que eu estava ali por você, que eu iria até o inferno pra te ver bem, eu lembro de como você me olhou a primeira vez que nos falamos, lembro como chegou em mim doce e gentilmente e se ofereceu pra estar comigo ali, aquela expressão de desejo incontido, a forma como você me olhava, tudo aquilo me diluiu como uma pequena garrafa de água sendo aberta e atirada ao oceano. 


Eu costumava te dizer que você era assim, um dia de amor pra dois de raiva, mas agora já fazem quatro dias desde a última vez que te vi e sei que está tão chateada quanto eu, mas eu não posso te ver, não quero te ver, não preciso de você, o nosso amor foi estúpido, imbecil e inexistente. Talvez eu esteja mesmo na fase de luto onde não consigo ver nada além de raiva. Eu acreditei que você era a última pessoa do mundo que me magoaria, mas apenas por um tempo, um curto espaço de tempo eu acreditei que você não seria capaz de me ferir e depois, logo em seguida tudo virou um emaranhado de mágoa e feridas abertas provocadas pelos seus jogos estúpidos de interesse e desinteresse com a pura intuição de me usar pra alimentar o seu ego fútil.


E agora já não é outubro, já não há mais vento forte, as ondas no mar estão se acalmando, é temporada de ondas ruins e meu coração precisa de outro ambiente pra me curar, você me alimentou com tantas migalhas em momentos delicados pra mim que eu me iludi acreditando que você realmente seria capaz de gostar de mim. E agora como um soldado saído de uma guerra eu caminho para outro front e sou tida como traidora pelos meus amigos por permitir que você mexa tanto comigo. Talvez eu seja mesmo só uma menina estúpida e adolescente preza num corpo adulto buscando por amor e aprovação, mas agora já era, agora o amor me encontrou.


Eu não vou mais alimentar a segunda página do nosso romance, eu não serei mais a tola que te procura por mensagem, que responde suas fotos de visualização única, que corresponde seus abraços e apertos de mão sensíveis perguntando como eu estou. Não ouvirei mais as músicas que me mandou, não encaminharei mais suas mensagens pras minhas amigas procurando saber o que você tá dizendo, não vou mais me deliciar com suas fotos ou vídeos quase sem roupa, não vou mais me dedicar ao nosso amor. Eu volto, mas volto curada, volto mais forte, volto como uma viciada em recuperação, sem poder tocar, sem poder estar perto, sem poder falar sobre o assunto, mas volto.


Eu sou exagerada pra caralho e talvez tudo que eu esteja te dizendo aqui seja apenas reflexo de uma paixão ridicularmente infantil que vai passar daqui alguns dias, ou talvez eu realmente sofra pra caralho pra te esquecer, mas o que mais uma garota de 22 anos pode fazer a uma mulher de quase 30 que já viveu traumas irreversíveis? Daqui eu torço, pros seus problemas se resolverem, pro seu namoro dar certo, pro seu trabalho vingar, eu realmente sinto muito em te decepcionar e em te prejudicar de alguma forma, mas saiba que esse é meu último desabafo, meu último pedido de desculpas por ser eu mesma, meu último apelo pra que você se foda, mas não tanto, porque eu ainda gosto de você.


E quem sabe daqui a um mês ou daqui a um ano nos encontramos mais maduras e conversamos sobre isso deixando nosso lado aquariana de lado? É, você me perdeu, dói afirmar isso ainda, mas dói mais em mim saber que não vou ser capaz de te dar outra oportunidade de me ferir, de me enganar ou me iludir com seus jogos. E agora seremos duas estranhas dentro do mesmo ambiente trocando apenas duas falas e não mais mil sorrisos espontâneos e mil crises existenciais... Mas tudo bem, quem sabe amanhã eu volto pra dizer nunca mais. 

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