Resquícios de Caio F.
Nessa época eu namorava o fotógrafo Luis Crispino, com quem depois me casei. Lembro-me de que uma noite saímos os três juntos, o Caio morava numa vila da rua Melo Alves e estava deprimido por causa de um namoro que não tinha dado certo, ele era o rei da dor de cotovelo. A gente saiu, se divertiu, bebeu, curtiu, e quando fomos deixá-lo em casa, ele fez uma cena, disse que não queria mais viver, parecia ter encarnado um personagem de Shakespeare ou Nelson Rodrigues, sei lá. E nessas horas, os amigos viravam sua plateia. O Luis acreditou total no texto dele, ficou passado, com medo de ir embora e Caio fazer alguma bobagem. Mas eu logo saquei aquele lado escuro que ele mostrava de vez em quando. Fiquei brava, disse que aquilo não tinha a menor graça, que a gente ia embora sim e ele ia ficar muito bem. Ele ouviu minha bronca: eu sabia que ele precisava ir para a máquina de escrever e colocar seus fantasmas no papel.