Ainda me lembro muito bem da primeira vez que vi o Caio, e da calça de couro preto que ele usava. Ele era tão bonito. Fiquei enfeitiçado. Não posso dizer que a minha relação com o Caio tenha sido um conto de fadas, aliás, muito pelo contrário. Estava mais para um conto de Caio F., e os escritos dele eram muito mais quentes, úmidos e bem mais salgados que as histórias infantis; ademais, nem ele nem eu usávamos sapatinhos de cristal. Ele apareceu de repente na minha vida, partiu muito cedo, mas tivemos tempo suficiente para nos conhecermos profundamente em todos os sentidos. Dividimos a mesma casa, a mesma mesa, a mesma cama em vários momentos importantes de nossas vidas e pudemos demonstrar de maneira muita clara o profundo amor que sentíamos um pelo outro. Tudo isso sempre com muito suor e também com alguma dor, mas também rimos muito, reclamamos muito (ele reclamava mais) e choramos muito (eu sempre chorei mais). Caio era calado, pensava em cada palavra que iria dizer, e eu era o oposto: falava demais. Imagino que isso deveria ser uma tortura para ele. Para mim, era. Eu tinha sempre muitas perguntas e recebia poucas respostas. Já disse uma vez sobre a obra do Caio: “Somos tragados pelos seus contos desde a primeira linha”; e acontecia o mesmo nas relações pessoais com ele. Fossem de amor, de amizade ou de trabalho, éramos sempre tragados para a teia de Caio F. Eu fui e gostei. Não havia meio termo para ele, que amava muito e odiava com a mesma intensidade. Isso 
também não significava que ele não poderia mudar o sentimento que tinha por qualquer um de nós a qualquer momento e reverter para o sentimento anterior com a mesma expressão de sabedoria.

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