O sorriso dele colocava o sol sob seus pés, era tão brilhante, tão radiante, ele tinha aquilo que chamamos de... aura colorida. A mais colorida que eu já vi. Lembro da primeira vez que o vi, estava se blusa branca, short meio rasgado, cabelos amarrados e alguns dreads bagunçados, sentia frio. Mas curtia o frio como uma segunda pele, trincava os dentes e sorria. Estava caminhando sozinha numa calçada ao lado de uma floresta imensa, e ele foi chegando aos poucos, atravessando a rua e indo de encontro a mim... Quando olhei para o lado senti toda a sua energia invadir o meu casaco, e depois a minha blusa, foi entrando no peito e grudou ali mesmo. Ele falou baixinho: Esse barulho é sinistro, né? E eu silenciei, de repente todos ao nosso redor silenciaram, menos os sapos. Os sapos que faziam o tal barulho sinistro. E eu ouvi o barulho assustador que aqueles sapos faziam, mas mesmo assim perguntei: que barulho? E ele me olhou e imitou com aquela boca de dentes pequenos, desajustados e amarelados o barulho dos sapos. Me arrancou ali o primeiro sorriso. Chegando ao nosso destino, um festival de Jazz, ele foi para longe, mas já havia deixado sua primeira marca d'água em mim. Um sorriso de palhaço. No outro dia o encontrei numa caminhada até a cachoeira, ele com toda aquela alegria tocando pandeiro e cantando um samba antigo puxado pro candomblé. Mas eu já estava tão lotada de sentimentos naquele dia que não tive a intenção sequer de me aproximar... Depois disso voltei a encontrá-lo em uma rave. Drogado, estávamos. Ele dançando, eu sentada. Cabeça para cima, como quem observa o céu, ele desceu seu rosto sobre o meu, se aproximou, quase nos beijamos, mas me apavorei, e apavorada me afastei, e ele voltou a sorrir aquele sorriso de palhaço... Elogiou meu batom vermelho e sumiu. No dia seguinte o encontrei novamente, estava lá, não me viu, eu o vi, e constatei: Destino. Não é possível, cruzar tantas vezes com a mesma pessoa sem sequer saber seu nome e sentir tanta energia emanando dela e lhe pegando pelo pé. Que nada, depois disso o esqueci. Ou pelo menos o guardei. Até o rever numa reunião, e sentir todas as suas tintas se perderem em mim... Vermelho, branco, seus desenhos, seus quadros, tudo me invadiu... Fiquei perdidamente apaixonada por aquele ser que me dedicou apenas alguns minutos de atenção. Ele ganhou todos os meus sorrisos, e agora eu conto os dias, eu faço planos, eu desenho formas de te encontrar por aí. Nem que seja pra te dizer que você é tudo que eu não queria querer, mas acabei sem conseguir.
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como uma flor selvagem numa floresta do japão.
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