Enquanto tomo um refrescante copo de Coca-Cola, ela conversa com uma guria que parece forçada a ouvir o que ela aponta no caderno e comenta. A maior parte de seus cabelos azuis com preto reflete ao menos um terço da luminosidade que seu sorriso trás para o ambiente. Nos meus fones toca Pink Floyd e eu levanto a sobrancelha esquerda e os dois olhos para observá-la. Não é a primeira vez que a vejo, mas é com certeza, a primeira vez que a reparo com tal esmero e curiosidade que sinto pulmão engolir coração, estômago dando nó, espinha se contraindo. A sua blusa igual a minha, cortada ao meio, meio torta, lhe legenda, confirmando o que desde que cheguei notara: Ela é absolutamente linda. Atende ao celular e entrega mais um sorriso e mil litros de paixão pela guria que está ao seu lado. Suas expressões, ora de susto ora de alegria, me fazem tremer a perna direita e correr até lá. Noemi sabe que a vigio, discretamente ela vira o rosto e a sua blusa sobre cai seu ombro, embaraçando seus cabelos e a fazendo parecer ainda mais à vontade. Pois se foi o tempo em que eu me dava ao luxo de amar sem se preocupar com outros quinhentos. Escrevo sobre Noemi porque já não há ninguém na minha diagonal, vertical, horizontal ou em qualquer outro espaço dentro do meu campo de visão, dentro do meu mapa astral. Escrevo sobre Noemi porque sei que seria completamente perfeito se hoje se hoje eu houvesse chegado minutos antes da guria que tá ao lado dela. Eu sentaria lá, no duro, e pediria ajuda, em qualquer coisa. Noemi, cujo nome sempre troco por Naomi, tem as sobrancelhas mais bem feitas que já vi, e seus lábios quando se separam deixam amostra pequenos riscos da pele que reveste a boca por dentro, só assim é possível notar que seus lábios são talvez tão carnudos quanto os de Magli Magoo, a menina loba. Os traços de sua face lembra-me vagamente uma cigana que conheci nessas andanças. Duas outras meninas, um casal de muito tempo, onde a moça de cabelo curto já alimentou muito amor por uma cigana que também me derrubou em seu lenço gigante vermelho quase transparente, e a de cabelos longos sofreu pela de cabelo curto enquanto ela se lambuzava com o MEU antigo amor. Não foi dessa vez quê. Não tenho certeza se Noemi me amou em alguma daquelas poucas vezes em que se virou para trás e me viu devorando o caderno e seus olhos. Mas sei que me amaria, sei que seria capaz de amá-la também, talvez não por muito tempo, mas a amaria, amei-a. Amei-a por dez segundos e oito contos de réis, como aquele escritor amou a Senhora de Zézim Alencar.

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