Daí tu chega naquela fase de não saber do que gosta ou do que deixa de gostar, tu não sabe se é melhor fazer 18 anos ou ter 15 outra vez. Tu quer mais que tudo passar no vestibular desde criança, mas descobre que não é só passar a vida toda estudando pra isso, tem que estudar tudo que tu aprendeu em um ano pra poder passar. Tu admira todos os teus professores, mas não quer ser um deles. Porque tudo que tu quer, é o que a sociedade+família te impõe: Estabilidade financeira. Tuas noites se encurtam, teu namoro tem um tempo mínimo de aproveitamento, teus amigos passam a sumir na segunda, na terça, na quarta e quando chega na sexta tu ta cansado demais pra curtir com eles e só quer uma boa cama e um suco de maracujá bem doce. Logo tu, Brutus, que gritava pra quem quisesse ouvir que não media o tempo em relógios, olha pro teu relógio de pulso a cada cinco minutos pra ver se tá na hora de ler isso, assistir aquilo, se informar com fulano de tal, procurar aquelas coisas lá, sair do trânsito infernal de Fortaleza, tu percebe que pode ficar pior quando tem que cronometrar o tempo que passa ao lado do teu amor porque tem que ir pra casa resolver um bocado de coisas insuportáveis que te sufocam, mas são úteis pra ti. Tu toma inúmeras xicaras de café amargo pra conseguir ficar acordado até as três da manhã, pra acordar as seis e encontrar pessoas completamente burras, completamente chatas, completamente vazias, mas ainda sim sorri porque tem aquelas que são poucas, mas são completamente lindas, completamente suas, completamente amáveis, completamente verdadeiras e cheias de palavras pra lhe dar. Além de lidar com essa porrada de coisas, tu entra na fase de não saber sentir, nada, por ninguém. Ou tudo, por todo mundo que já passou. Tu odeia aquela maldita ex que rouba a cena com teus amigos e paga de vítima, e odeia mais ainda aquela que bebe até cair nos shows e vem soltar piadinha barata pra cima de ti. Tu odeia aquela que nunca te amou, aquela que te amou tarde demais, e odeia principalmente aquela que, por mais que você maltrate, nunca deixou ou deixará de te amar. Essa tu ama odiar. Tu ta na fase de ler Os Grandes, Machado, Alencar, Voltaire, Toquinho, Vinicius, Drummond e por aí vai. Tu gosta de coisas pesadas como Nelson Rodrigues e esquece que o teu maior amor era a literatura contemporânea. Hoje eu tô sem Ana, sem amor de duas semanas, sem ex nenhuma pra encher a cabeça, sem ninguém pra dizer que amor de praça é amor que não é esquecido nem com cachaça. A tua mente tá tão exausta que tu começa a desabafar no automático em qualquer lugar sem se importar com quem vai ler porque afinal, só quem me procura aqui é quem me conhece, e sabe que isso jamais poderia acontecer. Quem fala aqui é o meu eu lírico masculino, muito prazer.

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