Conto - Por um desespero agradável.
- Alô?
- Quem gostaria?
- Quem tá falando?
- Quer falar com quem?
-Com qualquer pessoa.
-Escuta aqui, colega, eu tenho mais o que fazer, então se você puder parar de me passar trote, eu agradeço.
-Espera, não desliga.
-Qual foi?
- Qual seu nome?
-Não ouviu eu dizer que tenho mais o que fazer?
-São meia noite de um sábado, o que você poderia ta fazendo?
-Umas coisas aí, lendo umas porcarias...
-Quer ler para mim?
- Você quer mesmo ouvir?
- Vai em frente...
- Ah, que brilhante, agora to falando com alguém que eu nem sei quem é!
- Hey, não tem problema, eu também não tenho estado, digamos que... ocupado!
- hmmm
Ouviu o suspiro do outro lado da linha, depois o clique do isqueiro, quatro vezes seguidas, ouviu uma brisa. Começou a imaginar a janela aberta, o vento entrando e apagando o fogo do isqueiro, a cara emputecida, porém, invisível, de quem tentava acender algo, um cigarro, obviamente.
-Você fuma?
-Quê? Como você sabe?
A fumaça escapava da boca enquanto ela afastava a cortina da janela só para checar se estava sendo observada.
Suspirou exausto, perdido em seus pensamentos, a cabeça cheia de cabelos, até os ombros, o sorriso gasto, um pensamento passou-lhe arrepiando: se me visse, saberia: fumante, e dos brabos. Olheiras maciças, redondas, enormes! Corpo magro, desgastado, surrado, uma cicatriz no dedo no braço, e de repente pensou que se a visse, também, a advinharia assim, por completo, iria deduzindo de onde vieram as cicatrizes, o porquê do corte de cabelo, tudo, tudo. Mas não a via, ouvia principalmente a respiração, o tragar do cigarro, como não confiava em relógios deduzia que já se passara tempo demais e o silêncio já começara a incomodar.
-Então, você não ia ler?
- Ah, não era nada demais. Umas coisas aí, uma revista.
-Qual revista?
-Você não conhece, é de Paris. Me trouxeram já tem um tempo, mas só abri agora.
- Por?
-Por o quê?
-Porque só abriu agora?
- Bem, você sabe... Sábado a noite, nada para fazer... coloquei angela gogo e vim ler.
- O disco em frances?
-O disco em frances.
-Espera, vou desligar o som.
-Gosto dessa música em especial, ela dá um suspiro de dor no finalzinho...
-Comecei a escutar por causa de você.
-Lembra daquela tarde que você roubou os meus cds do pink floyd e eu roubei sua coleção de gibis?
-Ah, claro! Você, tão criativa, escondeu os cds naquela escada, a mesma que eu resolvi esconder as revistas.
Naquela época ainda se conheciam, hoje não mais...
-Vamos sair?
-E nos perder de novo? Melhor não. Arrume algo melhor pra fazer, minha presença nem é tão boa assim...
-Sinto sua falta.
-Sinto sua presença e a falta dela é que me mata.
-Melhor desligar...
-Não ligue mais.
-Amanhã embarco para paris, não poderei ligar pelos próximos seis meses.
-Bem, me traga uma revista de presente. Sobre Biologia. A Biologia no francês soa bonito, você sabe...
- Quem gostaria?
- Quem tá falando?
- Quer falar com quem?
-Com qualquer pessoa.
-Escuta aqui, colega, eu tenho mais o que fazer, então se você puder parar de me passar trote, eu agradeço.
-Espera, não desliga.
-Qual foi?
- Qual seu nome?
-Não ouviu eu dizer que tenho mais o que fazer?
-São meia noite de um sábado, o que você poderia ta fazendo?
-Umas coisas aí, lendo umas porcarias...
-Quer ler para mim?
- Você quer mesmo ouvir?
- Vai em frente...
- Ah, que brilhante, agora to falando com alguém que eu nem sei quem é!
- Hey, não tem problema, eu também não tenho estado, digamos que... ocupado!
- hmmm
Ouviu o suspiro do outro lado da linha, depois o clique do isqueiro, quatro vezes seguidas, ouviu uma brisa. Começou a imaginar a janela aberta, o vento entrando e apagando o fogo do isqueiro, a cara emputecida, porém, invisível, de quem tentava acender algo, um cigarro, obviamente.
-Você fuma?
-Quê? Como você sabe?
A fumaça escapava da boca enquanto ela afastava a cortina da janela só para checar se estava sendo observada.
Suspirou exausto, perdido em seus pensamentos, a cabeça cheia de cabelos, até os ombros, o sorriso gasto, um pensamento passou-lhe arrepiando: se me visse, saberia: fumante, e dos brabos. Olheiras maciças, redondas, enormes! Corpo magro, desgastado, surrado, uma cicatriz no dedo no braço, e de repente pensou que se a visse, também, a advinharia assim, por completo, iria deduzindo de onde vieram as cicatrizes, o porquê do corte de cabelo, tudo, tudo. Mas não a via, ouvia principalmente a respiração, o tragar do cigarro, como não confiava em relógios deduzia que já se passara tempo demais e o silêncio já começara a incomodar.
-Então, você não ia ler?
- Ah, não era nada demais. Umas coisas aí, uma revista.
-Qual revista?
-Você não conhece, é de Paris. Me trouxeram já tem um tempo, mas só abri agora.
- Por?
-Por o quê?
-Porque só abriu agora?
- Bem, você sabe... Sábado a noite, nada para fazer... coloquei angela gogo e vim ler.
- O disco em frances?
-O disco em frances.
-Espera, vou desligar o som.
-Gosto dessa música em especial, ela dá um suspiro de dor no finalzinho...
-Comecei a escutar por causa de você.
-Lembra daquela tarde que você roubou os meus cds do pink floyd e eu roubei sua coleção de gibis?
-Ah, claro! Você, tão criativa, escondeu os cds naquela escada, a mesma que eu resolvi esconder as revistas.
Naquela época ainda se conheciam, hoje não mais...
-Vamos sair?
-E nos perder de novo? Melhor não. Arrume algo melhor pra fazer, minha presença nem é tão boa assim...
-Sinto sua falta.
-Sinto sua presença e a falta dela é que me mata.
-Melhor desligar...
-Não ligue mais.
-Amanhã embarco para paris, não poderei ligar pelos próximos seis meses.
-Bem, me traga uma revista de presente. Sobre Biologia. A Biologia no francês soa bonito, você sabe...