Foi numa vez, exatamente numa única vez. Larguei tudo e peguei o primeiro ônibus correndo que passou. Mas antes, como quem esperasse você chegar, deixei os telefones dos possíveis lugares que eu poderia estar, o endereço, a hora exata em que eu estaria lá; No caminho crianças beijando solas de sapatos e cheirando cola. E eu esperei, eu esperei em cada um dos lugares, por décadas, esperaria por séculos&milêncios se tivesse todo esse tempo, mas enquanto pude, estive lá, sempre esperando, acreditando que o próximo par de pés que pisaria ali seria o seu. Esperei em vida, em morte, em inércia, em porre, em viagem astral, durante todas as madrugadas rodeada e drogados de todos os dias de todos os meses de todos os anos. Aos domingos procurava um motel barato pra descansar e banhar. tinha que ter um pouco de encanto que fosse no nosso encontro. As roupas de cada semana foram escolhidas baseadas em todos os nossos antigos encontro, tentei da maneira mais bonita que eu sei, drink sweet drink, eu rezava pro teu Deus te trazer pra mim, não tinha muita fé, mas esperança eu tinha, muita, ela ocupava os lugares mais profundos em mim. você ocupava esses lugares também, tão profundos,sentia as partículas acelerarem quando pensava que no próximo segundo você poderia estar lá, comigo. Mas nunca, nunca a coragem de ir até sua casa, nunca a coragem de bater a sua porta ou de tocar a campainha, você sempre me fazia ficar na dúvida, quando eu tocava lá, você chegava toda silenciosa me tratando como um desses travestis cheios de gírias, você dizia que eu devia só ter chamado, só ter sussurrado, só ter ligado, dado um toque, mas eu achava mais excitante só ouvir sua voz quando abrisse a porta, o interfone era um contato tão superficial... quando eu chamava, você chegava rápido, quase suando, e gritava que eu devia ter tocado o interfone pra você, que só tinha você, você vinha com seu ar de quem enjoa do algodão doce mas não quer jogar fora, e eu ria, feito louca, porque era engraçado alguém ficar com cara de quem enjoa de algodão doce, eu pensava em perguntar se, e quando se, e se, mas tudo era claro e fato. só que você foi embora naquele dia, depois de chegar e me empurrar, depois do beijo, depois do último quase beijo, depois de mentir pra mim, pros outros, por mim, pelos outros. Depois que menti, também. Mas apesar de tudo fomos honestos, fomos tão puros desde sempre, nunca sexo, nunca uma cama, nunca tesão, era só amor, paixão não tinha. Agora tem, agora tem tudo, agora eu estava com tudo, e naquela única vez em que sai correndo e fui parar em lugares que você poderia a qualquer momento aparecer pra me encontrar... E eu me perguntava como amar alguém que nunca cheguei nem a tocar... Nunca te toquei, nunca me tocaste, nunca nos permitimos de verdade, mas naquele dia em que eu sai, naquela vez, ah, era uma vez...
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como uma flor selvagem numa floresta do japão.
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