Todos os livros que eram teus agora estão no fundo da estante, as cartas que eram para mim estão espalhadas pelas páginas aleatoreamente, e não abro. Observo de longe a porta da estante, sinto uma vontade louca de abrir, sentar no chão e reler tudo o que tem em cada pedaço de papel que passou de você para mim, e que eu queimaria se não fossem do Chico, do Caio e da Clarice, se não envolvessem sexo, amor, e não tivessem marcações com lápis nas melhores frases. Faz parte... a saudade faz parte, mas ela machuca que é uma belezura, tá vendo, moça? O que nos restou? Depois do amor é tudo o que resta. Eu te imaginei tanto numa tarde de sol, você com aquele aviador, a pele branca e as sardas se fortalecendo com os raios ultravioletas no meio duma praça que isso se tornou uma memória, real. Me diz o que fazer, então? Pra sentir vontade de não virar todos os copos, de todas as bebidas, de todas as garrafas desses bares que frequento por falta de você? Tenho cuidado muito bem do meu coração, só há restos dele, se algo o tocar denovo, se alguém balançar meu corpo denovo com um pouco de força que seja, ele se despedaça, igual papel queimado quando tocado. Mas o fígado, é um cactus! Tento cuidá-lo, mas quando o toco para dizer: Calma, você não pode sugar tudo desse jeito... Ele me fura, e suga meu sangue também. Impossível.
Mas voltando a estante, os porta-retratos vazios, todos eles, só restou um, com uma foto rasgada ao meio, só aparecem meus olhos, não lembro mais o que tinha no resto da foto, mas eu quero acreditar que eram os seus olhos. Rasguei todas as suas fotos. E, a TV, o controle, eu quebrei. Eu quebrei tudo o que poderia lembrar você algum dia. E ver qualquer pessoa me lembra você. Então tranquei portas, janelas, e há cadeados até nos quartos. Virei espelhos, pra não correr o risco de me ver no fundo do poço e se sentir tentada a escapar. Eu quero a fossa. Eu quero sentir cada um desses punhais que você atirou dilacerando minhas costas. E a saudade lá em cima, eu olho pra ela vezenquando. Aqueles brilha-brilha-no-escuro onde mostram âncoras, barcos, e pequenos principes. Projetei tudo para que isso acontecesse. De repente, de súbito, acordo numa manhã e as janelas estão todas abertas, e os pássaros estão todos cantandos, a tv está ligada, minhas fotos estão todas lá, mas eu estou sozinha. Então eu corro, sem pensar e procuro os livros, os livros! Eles estavam lá na noite passada, ou no ano passado... Mas sumiram, procuro, reviro, não descanso, o suor descendo sobre o rosto anêmico, amarelado, e as cartas? Teriam ido embora também? As cortinas se foram, você levou tudo, tudo, tudinho... Não sobrou nada, e o travesseiro? A estampa mudou, o travesseiro foi trocado, meu cabelo foi cortado durante a noite, as unhas estavam pretas, agora, sem cor alguma, mas retas, cortadas, limpas. Quando passo pelo corredor meio as pressas em busca de você(porque você deveria ainda estar lá), me deparo com um espelho, e reparo: Os olhos, os olhos mudaram também, estão como na foto, sorrindo. Exausta de procurar, sem pensar em mais nada, tomo um banho, faço um chá de canela e sento no sofá, observando todas as fotos, aos poucos, a memória volta pro lugar, a lucidez toma de conta, e, com os olhos marejados, descubro: Ana era mesmo utopia. O que eu temia.
Mas voltando a estante, os porta-retratos vazios, todos eles, só restou um, com uma foto rasgada ao meio, só aparecem meus olhos, não lembro mais o que tinha no resto da foto, mas eu quero acreditar que eram os seus olhos. Rasguei todas as suas fotos. E, a TV, o controle, eu quebrei. Eu quebrei tudo o que poderia lembrar você algum dia. E ver qualquer pessoa me lembra você. Então tranquei portas, janelas, e há cadeados até nos quartos. Virei espelhos, pra não correr o risco de me ver no fundo do poço e se sentir tentada a escapar. Eu quero a fossa. Eu quero sentir cada um desses punhais que você atirou dilacerando minhas costas. E a saudade lá em cima, eu olho pra ela vezenquando. Aqueles brilha-brilha-no-escuro onde mostram âncoras, barcos, e pequenos principes. Projetei tudo para que isso acontecesse. De repente, de súbito, acordo numa manhã e as janelas estão todas abertas, e os pássaros estão todos cantandos, a tv está ligada, minhas fotos estão todas lá, mas eu estou sozinha. Então eu corro, sem pensar e procuro os livros, os livros! Eles estavam lá na noite passada, ou no ano passado... Mas sumiram, procuro, reviro, não descanso, o suor descendo sobre o rosto anêmico, amarelado, e as cartas? Teriam ido embora também? As cortinas se foram, você levou tudo, tudo, tudinho... Não sobrou nada, e o travesseiro? A estampa mudou, o travesseiro foi trocado, meu cabelo foi cortado durante a noite, as unhas estavam pretas, agora, sem cor alguma, mas retas, cortadas, limpas. Quando passo pelo corredor meio as pressas em busca de você(porque você deveria ainda estar lá), me deparo com um espelho, e reparo: Os olhos, os olhos mudaram também, estão como na foto, sorrindo. Exausta de procurar, sem pensar em mais nada, tomo um banho, faço um chá de canela e sento no sofá, observando todas as fotos, aos poucos, a memória volta pro lugar, a lucidez toma de conta, e, com os olhos marejados, descubro: Ana era mesmo utopia. O que eu temia.